EU SOU EU?
Quem
sou Eu? Existe verdadeiramente um Eu? Existe uma
realidade subjetiva? Existe algo como uma consciência espiritual?
“
O Reino de Deus está em vós”, tal é a mensagem eterna. Hoje
milhares de seres já procuram esse “Caminho Secreto”, para que os possa levar a
esse reino. Ali chegados, encontram as fontes de toda inspiração, descobrem o
ponto onde o intelecto se transforma em intuição; penetram no reino da
iluminação. E a recompensa aos que adentram na cidadela da alma é a
Transfiguração - o esplendor que se irradia através da sua personalidade em
rápida mutação diária.
Nesse
recinto secreto nos juntamos às fileiras dos Grandes Intuitivos, os inspirados
companheiros de Deus. Estaremos entre aqueles que tem por missão redimir a
humanidade, pois esse tem sido sempre o caminho da salvação para Deus.
O Grande
filósofo alemão Kant disse que “ havia entre todas as maravilhas da
criação de Deus, duas que deixava para trás as outras, uma acima de nós – a
imensidão dos céus estrelados, a outra, dentro de nós – o espírito do homem”.
Os
avanços tecnológicos de hoje nos mostram um mundo cheio de esplendor, mas a
ciência ainda não sabe nos dizer esse simples problema: Quem sou eu? Somos
curiosos em saber tudo a respeito do nosso planeta, mas ficamos indiferentes
quando se fala do nosso eu profundo. Não nos conhecemos a nós
mesmos. Sabemos o valor de cada coisa, mas ignoramos nosso próprio e
inestimável valor.
Por
que razão o que mais nos interessa é a nossa própria pessoa? Porque a pessoa é
a única realidade da qual estamos certos. Por isso todos os fatos da vida que
nos rodeiam, todos os pensamentos íntimos do nosso ser só existem para nós
quando o nosso “Eu” os percebe. O “Eu” vê a terra – então a Terra existe; o “Eu
está consciente de uma ideia – então essa ideia existe.
O que é exatamente esse “Eu”?
Os
antigos ensinaram e sábios de nosso tempo confirmam que no imo da nossa
consciência existe um veio de mais puro quilate, veio de ouro
resplandecente que está a nossa disposição, como uma chave mestra de
todas as portas filosóficas, abrindo os cofres de todos os problemas
científicos, de todos os mistérios e de todos os enigmas aparentemente insolúveis
da vida. Esse “Eu” é a nossa grande essência..a primeira noção que temos
de nós e será a derradeira que conheceremos ao chegarmos a ser sábios.
A
verdadeira sapiência, a luz do intelecto, nos vem de dentro da esfera do “Eu”,
nosso Eu mais profundo. Não podemos conhecer o mundo e saber acerca das coisas
senão através de certos instrumentos e dos nossos sentidos.
Todavia
quem os interpreta e os utiliza é o nosso “Eu” maior. Somos portanto obrigados
a reconhecer que o estudo do “Eu” é o mais importante ao qual um
pensador deve dedicar-se.
Santos
e sábios, pensadores e filósofos, sacerdotes e cientistas – todos eles no
decorrer dos séculos, tentaram decifrar a enigmática natureza da alma humana.
Descobriram no homem um ser paradoxal, capaz de baixar aos abismos mais
profundos da perversidade e contudo suscetível de elevar-se aos cumes mais
sublimes da nobreza.
Quando
olho em volta de mim, só percebo discórdias, contradições, distrações. Quando
olho para dentro de mim, só vejo ignorância e dúvidas. “Quem sou
eu? De que causa deriva minha existência? Estou confuso e
impotente diante de todas essas interrogações angustiosas e parece-me estar
envolto por todos os lados em trevas densas.
Deus,
acendeu uma faísca da sua Luz Divina no coração de cada criancinha
recém-nascida e essa Luz continua acesa por toda a sua existência. Contudo,
ocultamo-la tanto em espessos envoltórios de ignorância que não a enxergamos
mais e no entanto precisamos desvendá-la. Nenhum clamor de coração sincero é
dado em vão, e se nossa prece for como ela deve ser – o Deus do nosso
próprio coração nos responderá.
Nas
tradições orais que nos foram legadas por nossos antepassados através de toda a
literatura mundial, desde os primeiros manuscritos arcaicos do Oriente até as
nosso mais recentes edições modernas, há sempre uma estranha e persistente
alusão velada à existência de um outro “Eu” no homem. Seja qual for
o nome que se dê a esse estranho ”Eu”, quer seja alma, sopro, espirito,
centelha divina – pouco importa; vale mais saber que não existe no
mundo uma doutrina de origem tão remota.
Foi
assim que os primeiros grandes sábios, observando o movimento dos pensamentos
da sua própria mente, descobriram que algo estava em ação quando
pensamento cessava. Esse algo era a primeira insinuação da alma de cuja
descoberta nasceu a ciência que ao antigos começaram a ensinar aos homens. Como
um meio de conhecerem a verdade sobre si mesmos.
Tal
ciência foi transmitida por métodos diversos em quase todas as civilizações
pré-cristãs, na Suméria, Egito, Babilónia, Caldeia, China, Pérsia. Índia,
México, entre os índios da América do Norte, Maias da América Central e os
desventurados Astecas, assim como entre os judeus da Fraternidade Essênia e os
Gnósticos das cidades mediterrâneas.
A
iniciação a esse conhecimento era transmitido nos recintos fechados dos grandes
santuários e considerada pelos antigos, assunto de grande importância, que
homens como Akenaton no Egito e Sócrates na Grécia, entre outros, não vacilaram
em submeter-se a essa experiência sublime e inesquecível, saindo dela
fortalecidos, prestes a desempenhar com absoluta consciência o papel que lhes
fora designado pelo destino tal era a grandeza da revelação recebidas.
A
iniciação nada mais era realmente do que entrar na percepção daquilo que o
candidato de fato precisava, a revelação de seu mundo interior.
Se
essa experiência íntima foi possível muitos séculos antes da era cristã, não há
razão para que não o seja no presente. A natureza fundamental do homem não
mudou nesse intervalo.
Será
esse “Eu” oculto uma imaginação louca, vaga quimera de alguns visionários, cuja
fama milenar nos foi transmitida através dos tempos?
Há
no homem algo mais do que o revelam as impressões comuns. As descobertas
da Psicologia experimental tem levado a interessantes
conclusões a esse respeito e confirmado inumeráveis relatos da experiência
mística.
Que
é esse “algo mais” no homem, que o faz defender esplendidos
ideais e conceber nobres pensamentos? Que presença espiritual dentro
de seu coração o instiga a afastar-se da existência banal, puramente terrena
e travar uma luta constante entre o anjo e a besta que habitam em seu
corpo?
Quando
dizem a nós, homens deste século, que Deus não é apenas uma simples palavra
sobre a qual se argumente e discuta, mas um ESTADO DE
CONSCIÊNCIA que podemos realizar agora, em carne, ficamos
surpresos com tal afirmação. E quando se nos afigura a existência de alguns
seres que vivem entre nós e viram Deus – tocamos a cabeça num gesto
significativo... e ademais, se nos asseguram que temos o Divino dentro
de nós e que a Divindade é o nosso verdadeiro Ser, sorrimos
indulgentes com ares de ceticismo.
No
entanto, isso não é nem teoria, sem sentimentos; é uma certeza
inegável, evidente e absoluta para aqueles que querem se adiantar ou já se
adiantaram um pouco no caminho da percepção espiritual.
A
raça humana, no decorrer da sua tão extensa historia, superpôs um
segundo “Eu”, à natureza individual com que todos os homens
principiaram sua peregrinação. Este segundo “Eu”, geralmente chamado
pessoa, veio a existência através da união do espírito e matéria,
através da mistura de partículas da consciência do “Eu” real sempre consciente
com as partículas da matéria inconsciente, extraídas do corpo.
Este
segundo e último “Eu” é aqueles que todos conhecemos, o eu pessoal, mas o
primeiro e real “Eu” que existia antes que o pensar e o sentir aparecesse
dentro do ser humano, é aquele que poucos conhecem, que é sutil e não
tão evidente, porque nos torna a todos partícipes da natureza da divindade. Ele
vive sempre sobre nossas cabeças, é um ser angelical de inimaginável
grandeza e misteriosa sublimidade, e por isso o chamamos Super Eu. Por
detrás do homem que vemos há um outro ser oculto, por detrás desse
corpo carnal vive a consciência resplandescente e pura.
Nas
profundezas mais íntimas do nosso ser é que vivemos a vida real e não
na máscara superficial da personalidade que mostramos. Por isso há na vida
momentos inesquecíveis em que recebemos do nosso Super Eu insinuações de uma
existência superior que é possível para o homem. Em tais momentos se abre um
luminoso portal e então sabemos que os sonhos da alma podem chegar a ser
realidades; que o Amor, a Verdade e a Felicidade são de fato nossa
legítima herança.
Essas
tênues e imponderáveis intuições que vêm ao homem em seus mais felizes momentos
são semi-sussurros ouvidos de seu Eu maior. O chamado espiritual está sempre
tentando falar ao coração humano, mas nós não escutamos.
O
homem tal como é, tal como sempre foi e será por toda a eternidade é um ser
espiritual. A vida em seu corpo carnal não desmente essa afirmação. Os
sentidos que pertencem ao mundo sensorial físico mantém o homem cativo sob
sugestão hipnótica e como são muito reais, a sua maneira nos fazem confundi-los
com o seu verdadeiro Ser, que ele realmente é.
O
céu nos rodeia não apenas nos inocentes dias da infância, mas em cada instante
da nossa vida, ainda que não o notemos. Alguns estão tão perto dessa
verdade, que inconscientemente esperam pelo momento milagroso em que lhes será
plenamente revelada; basta falar-lhe com o tom apropriado, logo a
esperança ilumina suas almas. Essa esperança é a Voz silenciosa do
Super Eu.
Devemos
pois procurar humildemente esse Eu Superior através de todas as gamas de nossos
movimentos íntimos, remontando tão longe quanto possível. Somente então
veremos que o corpo e o intelecto são apenas os instrumentos que nos
possibilitam a percepção de algo maior – testemunho silencioso, fonte da paz
indizível, sabedoria absoluta e vida eterna – o Super Eu do
homem.
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Obs: Excertos do livro
"O caminho Secreto" de Paul Brunton.